Enquanto escritora, tenho essa inquietude em dar à luz à uma história.
Por vezes sou acometida por uma covardia orgânica que me faz hesitar em produzir qualquer texto.
O ceticismo na história
Sou uma daquelas pessoas que conhece uma ideia e tem receio em manter contato, em tentar fazer dar certo, em assumir um compromisso sério. Fico sempre com um pé atrás, desconfiada de que seja mesmo o que diz ser e não uma farsa na qual estou desesperada o suficiente para acreditar.
Por vezes temos o costume de revistar uma ideia de ponta a cabeça, virando-a do avesso, checando todos os bolsos, a fim de nos certificar de que ela é legítima e válida.
Tentamos sacolejá-la para ver se dela caem perigos ou então a observamos atentamente como se pudéssemos intuir na marra os segredos que ela esconde. Por que questionamos tanto aquilo que parte de nós?
Precisamos entender que o melhor é deixar a ação tomar seu curso e somente observá-la enquanto ela se desvenda e se desdobra. Muitas vezes somos sim surpreendidos, mas a surpresa é joia, não ameaça.
A perseverança na história
Por conta disso temo que a ansiedade nos imobilize de tal modo que passemos a negar a aptidão de nossa criação. E aí imagine só o resultado: todas essas histórias pulsando, crescendo, se desenvolvendo dentro de nós, num processo perfeito de zigoto à bebê formado, e então nos recusamos a parir.
Fico agoniada ao pensar que existem histórias que nunca nascerão.
Então penso que não, essa é uma decisão que cabe a mim tomar e um caminho que cabe a mim traçar. Resolvo que traço. Resolvo que esse é o melhor rumo para mim.
Escrever é arriscar gerar, nutrir e moldar histórias que não sabemos onde vão dar. Se é que elas vão dar em algum lugar e não só ser esquecidas num canto empoeirado da estante ou numa rolagem vertical de feed.
A decisão que tomo é em relação ao agora que conheço, não ao futuro que irei descobrir. Por hora, escrevo.
Tenhamos a coragem de parir nossas histórias.
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