
Inexorável
Giovana se sentou à escrivaninha do quarto, acendeu o pequeno abajur na beirada da mesa e abriu o caderninho que a acompanhava como um fiel escudeiro, ou uma indissociável sombra.
Nele, escreveu a frase:
“Você sente às vezes que está tentando fugir de um destino que já está acontecendo?”
Olhou para a ideia por um momento, a ordem das palavras parecendo desafiar uma constatação dolorosa e indesejada dentro do peito.
A frase tinha pipocado na mente, parecendo surgir do absoluto nada, enquanto olhava para o forro estropiado do banco do ônibus a sua frente, a caminho de casa depois do trabalho. Mas havia algum pensamento que de fato surgia do nada? Ou era apenas um convidado reservado e tímido, que tinha chegado ao recinto havia tempo e só esperara a oportunidade certa de se juntar à festa?
Aquela frase parecia brotar do medo mais antigo que o homem, mais antigo que o mundo, de perder o controle das coisas e passar a viver um cotidiano que uma força intangível escolhera para si.
Seria um medo coletivo, ou seria um medo individual? Faria alguma diferença saber a resposta, quando nas idas e vindas do sol, as pessoas que se abasteciam de oxigênio pareciam caminhar na mesma direção que ela?
Um, dois, três, o destino carregando todos de uma vez.
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