Poesia

Talvez seja eu quem precise de óculos

Será essa a mesma patologia 

daqueles que dizem que tomarão a saideira 

e não se levantam da mesa do bar?

Como se cura?

Remédio, álcool, cigarro, 

um tipo alternativo de droga?

Formas de maquiar a realidade.

Terapia, religião, isolamento social?

Em qual credo devemos crer

para diminuir a intensidade de nós?

É decididamente inquietante

observar as curvas inesperadas da estrada.

Enquanto a cena se desenrolava,

desejava eu ter minha câmera comigo

para extrair o meu doloroso papel de participante

e somente registrar cada expressão

composta por cada elemento

consciente, ou não, do que ocorria.

Dando-me assim a chance

de analisar posteriormente

como uma situação 

gera perspectivas tão distintas. 

No fim das contas,

de um jeito ou de outro,

existem situações da vida 

em que prevejo o futuro:

no caso eu

num quarto escuro

escrevendo minhas mazelas 

no bloco de notas do celular

enquanto a insônia me observa.

Gabriela Araujo

Tradutora (EN - PT), preparadora e autora de obras de ficção contemporânea.

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