Sentimentos & Devaneios

Vem cá, amiga(o)

Então resolvi escrever um texto.

Desta vez um texto de gratidão, porque nos últimos dias tenho tido provas de que estou cercada de pessoas bem inestimáveis que merecem reconhecimento.

Eu sou uma das pessoas que comete o terrível erro de ignorar sentimentos bons porque geralmente os ruins falam mais alto; porém, como sou alguém que gosta mais de ouvir, queria agradecer de coração a todas as pessoas que não só respeitam como compreendem meu silêncio e que me ouvem gritar de vez em quando sem tapar os ouvidos.

Vem cá, amigo(a).

Que essas palavras são para você que não me deixa cair, nem que tenha que se debruçar sobre o parapeito da janela e relutar comigo enquanto insisto que a queda seria melhor.

Vem cá, amiga(o).

Que está disposta(o) 24/7 a me ouvir balbuciar uns murmúrios desconexos com umas metáforas perdidas no meio do assunto para complicar que entenda o que realmente estou sentindo.

Vem cá, amigo(a).

Porque quando eu preciso que alguém entenda o que eu me recuso a entender, você grita “I volunteer” e corre para o início da fila antes de eu sequer precisar pedir.

Vem cá, amiga(o).

Porque você atende a pedidos que eu não faço, ouve palavras que eu não digo e lê o que ainda vou escrever. Te agradeço por se esforçar. A intenção conta muito no meu enredo.

Vem cá, amigo(a).

Que ouve minhas palavras repetidas e inclusive minhas promessas de “nunca mais falarei sobre isso”. Eu sempre falo, você sempre ouve. Ser amigo(a) é ser constante.

Vem cá, amiga(a).

Porque lidar com alguém tão fechada é como tentar abrir uma lata de leite condensado com o dente: bem difícil, mas você tem a esperança de encontrar algum doce lá dentro. Nem sempre tenho doce a oferecer, mas isso não impede que tente mais uma vez e mais uma, e mais uma, e mais uma.

Vem cá, amigo(a).

Que perde um tempinho para encher minha vida com poemas ritmados que têm um pouco de você e um pouco de mim também. Vou te confessar que por vezes eles são a única sanidade do meu dia, você não sabe quantas vezes já me salvou.

Vem cá, amiga(o).

Que eu sei que você cederia uma manga do seu casaco se eu estivesse tremendo de frio. Gosto do seu sentimento puro de querer me fazer bem e de demonstrar que quer me ver bem. Gosto do fato de usar seu coração assim estampado na testa; é para mim um dos mais admiráveis tipos de coragem.

Vem cá, amigo(a).

Porque você vê algo em mim que honestamente acho que conjurou, mas meu cinismo não te impede de acreditar. Como acho extremamente difícil acreditar, fico feliz que há alguém que se importa o suficiente para assumir o volante de vez em quando. Não é nem seu papel, mas você tanto não se importa com isso como não faz questão de uma carta de recomendação posterior.

Vem cá, amiga(o).

Que você banca a(o) boba(o) da corte por horas seguidas para eu sorrir, mesmo que seja pelo cansaço. Não sei se sabe, mas as vezes prendo o riso só para você não parar. Muito me agrada assistir sua maravilhosidade em ação.

Vem cá, amigo(a).

Porque às vezes te conheço a minha vida toda, às vezes te conheci há cinco meses, às vezes ainda vou te conhecer, mas já sei que você faz o meu mundo bem melhor. E eu tenho tido dificuldade de reconhecer coisas boas no meu mundo, então na boa, brigadão por existir.

Vem cá, amiga(o).

Porque às vezes você mora longe pra burro, às vocês mora do meu lado, mas os quilômetros não existem se eu precisar de você. Essa história boba de limites geográficos nunca te impediu de nada, e saber disso já é um remédio bem eficaz.

Vem cá, amigo(a).

Porque você se preocupa mesmo quando eu sumo e me procura para ajudar sem nem saber qual é o problema. Na maioria das vezes o problema sou eu mesma, mas isso não te intimida; penso até que te incentiva ainda mais a arregaçar as mangas.

Vem cá, amiga(o).

Que gosto a beça de quando você é você mesma(o), sem se importar se eu sou tímida e se vou querer esconder o rosto. Gosto muito de quando você simplesmente é sem se desculpar. Sua natureza é linda, nunca a esconda. Talvez um dia eu aprenda a dançar na luz também.

Vem cá, amigo(a).

Que me delicio, me encanto e me deleito com sua maluquice, seu jogo de cintura, suas piadas, sua gargalhada, seu jeito de menino(a), suas besteiras, suas fotos, seus vídeos, seu sorriso, seu jeito de jogar o cabelo pro lado e o vento devolvê-lo no seu rosto, gosto da sua alma. Você me revive.

Vem cá, amiga(o).

Que seu abraço é a única coisa que me fortalece em alguns momentos. Gosto até dos abraços virtuais, dos áudios engraçados, das fotos malucas, das mensagens inesperadas; esse mix de pequenas ações que faz com que a ausência da presença física desapareça na imensidão do sentimento.

Vem cá, amigo(a).

Porque às vezes você esquece de que é lindo(a) e eu tenho que te lembrar. Às vezes você esquece que sua luz é tão forte que algumas pessoas não conseguem suportar, mas esse nunca foi um problema seu. Às vezes você se sacrifica diminuindo a intensidade do seu brilho para que outra pessoa tenha sua vez, mas se ela não quiser brilhar contigo, ela é simplesmente insuficiente. Às vezes você é muita coisa, mas algo que é sempre é incrível, então não esquece disso não, combinado?

Vem cá, amiga(o).

Porque às vezes você duvida de si mesma(o) e ainda assim tem certeza de mim. Você merece essa confiança mais do que ninguém, afinal você é sensacional demais da conta. E tem um bocado de vozes ecoando a mesma mensagem para você. Acredita, vai, de vez em quando eu estou certa também.

Vem cá, amigo(a).

Que eu sei que uma vez ou outra sua insegurança se espelha na minha, e este é um reflexo que detesto ver em seus olhos. Acredite na sua verdade, ela reluz.

Vem cá, amiga(o).

Que você se questiona demais e esquece de que algumas perguntas não podem e não devem ser respondidas. O místico tem seu encanto e nem sempre surpresas são ruins. Sei que não entende tudo agora, a verdade é que nunca vai entender tudo, mas um dia isso não vai importar porque ser vai bastar.

Vem cá, amigo(a).

Porque o escuro te atrai um pouco demais, mas quer saber de uma coisa? Ele mente. A maçã foi envenenada, a arma está sim engatilhada e o caixão não é um lugar para repousar. Eu não sei se sou a melhor pessoa para te guiar, mas vem comigo, que nós andando juntos(as) chegaremos a algum lugar.

Vem cá, amiga(o).

Que a gente se larga por um tempo, mas sempre encontramos o caminho de volta. Seu carinho continua sendo um daqueles que mais me conforta e isso o tempo de separação não altera.

Vem cá, amigo(a).

Porque você é bom(-a) demais em tudo e não faz a menor ideia. Acho isso bastante cômico e ingênuo da sua parte, e te amo mais ainda por isso. Muda não, tá? Gosto do seu jeitinho de encantar.

Vem cá, amiga(o).

Que você dá várias voltas ao mundo para me ajudar sem suar ou reclamar, e depois disso pergunta se ainda preciso de algo. Preciso de você do meu lado só, o resto pode esperar.

Vem cá, amigo(a).

Porque sua inteligência é ouro e não falha em me impressionar. Sua genialidade causa fascínio a qualquer passante com meio cérebro, e vou repetir até que tenha fé nisso assim como eu tenho. Seu sucesso é uma estrada já pavimentada e pronta para uso.

Vem cá, amiga(o).

Porque você compartilha dos meus medos, mas pode deixar que sei guardar segredo. Ficamos alternando entre matar dragões e cuidar de nossas feridas; a guerra é mais fácil com sua companhia. Não sei quantas batalhas faltam, mas a guerra acaba, viu? E já somos vencedoras(es).

Vem cá, amigo(a).

Que pra você relógio não existe e se eu te ligar, não vai importar se é madrugada ou se acabou de acordar. Não faz mal se chegar atrasado(a), porque sei que estará lá. Muitas vezes preciso de alguém que não vai dizer para voltar mais tarde, então obrigada por perceber que não sou eu quem escolho a hora, ela quem me escolhe.

Vem cá, amiga (o).

Você é simplesmente essencial e eu só queria encontrar um meio de te dizer. Poderia escrever por mais uns três anos, mas sei que tem outras coisas a fazer. Então vá, mas saiba que estarei aqui quando voltar.

Leve minhas palavras, elas são bem valiosas para mim e quero que saiba que confio elas a você. Guarde-as em algum lugar seguro, dentro do seu coração talvez?

Vem cá, amigo(a), me abraça. Que sou apaixonada por abraços e o seu é bom demais.

Há algumas coisas nesta vida que estão acima de um valor quantitativo, a amizade é uma delas.

A vocês.

Originalmente publicado no Medium em abril de 2020.

Gabriela Araujo

Tradutora (EN - PT), preparadora e autora de obras de ficção contemporânea.

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