
O talento que expirou
Enquanto escritora, tenho essa angústia de que o talento perderá a validade.
Vez ou outra eu me apaixono por algum texto que redigi e sou tomada por um júbilo que quase transborda para em seguida entrar em pânico.
E se eu nunca mais escrever nada que seja bom?
O universo de suposições
Se eu tiver esgotado o arsenal de boas ideias? Ou jamais sentir essa satisfação por um texto de minha autoria de novo? Se tiver abusado da capacidade de meu cérebro e em punição ele simplesmente adormecer?
Começo a sentir esse comichão ansioso que necessita redigir uma nova história para garantir que ainda conseguirei, quase uma obrigação por provar a mim mesma que sou capaz, e me inquieto quando nada vem.
Bobagem. Eu querendo dominar meu processo criativo quando ele existe por conta própria quando quer.
Geralmente uma ideia me ocorre absolutamente do nada — no meio do banho, deitando para dormir, lendo um livro, etc. Um vislumbre de algo me acerta e alcanço a primeira ferramenta para rascunhar, seja um papel ou o celular.
Assim que tenho um tempo, então sento e desenvolvo o que eu pensei e ao final, observando o resultado, me encontro surpresa e um tanto curiosa, questionando a mim mesma de onde aquilo teria saído.
Nesses momentos dou uma risada, aliviada, esperançosa, porque consegui criar algo do qual me orgulho e finalmente posso respirar, o meu mundo não acabou.
Obsessão por controle
Alguns de nós têm essa obsessão por tentar fazer quando sabemos que o fazer acontece quando bem entende e não explica nada. Penso que ele é um amante que vem, satisfaz e não avisa quando volta — só dá a certeza de que volta. E assim ficamos a esperar.
Essas três crônicas que escrevi e publico em sequência partiram exatamente desse processo criativo repentino. Estava refletindo sobre os medos que me assolam em relação à escrita e assim meus dedos foram relatando.
Esse flerte que a escrita tem com a criatividade é excitante e quase perigoso, parece estar sempre à beira de dar muito certo ou não dar em nada.
É um projeto que iniciamos sem saber se teremos como levar até o final. Arriscamos porque precisamos que ele exista, pelo tempo que tiver que ser.
Foto em destaque retirada do site Unsplash e de autoria de Thought Catalog. Está de acordo com os direitos autorais do site.
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