
Soletrador
Uma das maiores dificuldades de Pâmela em relação a si mesma era aceitar que seus sentimentos não vinham com uma sinopse.
Não era como se pudesse virar a contracapa do livro que ela era e ler ali todo o resumo do que a história dos seus pensamentos revelaria. Não era como se, escondido entrelinhas com espaçamento 1,5cm e fonte Times New Roman, estivesse o be-a-bá que destrinchava suas inseguranças.
Caso perguntassem a ela o que lhe afligia, o que lhe impedia de abrir as cortinas da epiderme e revelar os segredos que corriam junto com seu sangue, o que bloqueava os pés de darem um passo além da soleira da porta e abraçar o barulho de conversas que assomava os metros entre ela e o restante do mundo, ela não saberia dizer.
Apenas não via, do outro lado do empenho social, a justificativa para a movimentação dos membros do corpo.
Ela se isolava com a própria dor porque não acreditava haver elemento a ser dito ou ouvido por ela que de fato provocasse a mudança positiva em sua forma de sentir.
Ela preferia chorar sem plateia e abraçar a desesperança sem sentir culpa por não ser forte.
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