Nós nos comprometeremos a uma promessa de Eu Novo.
É como uma promessa de Ano Novo diferente e atrasada. Esse ano tem sido todo diferente e é capaz que comece diferente de qualquer forma depois do rastro do Covid-19. Então de cabeça para baixo estamos certos.
De volta à promessa: você já percebeu que por vezes nos desdobramos para fazer alguém se sentir confortável no seu erro, mas não estendemos a mesma cortesia para nós?
Empatia é o nome e essa palavra é linda em si e em seu significado. Essa palavra caiu na mídia como uma luva e na boca do povo como uma prece.
Um minuto de silêncio de apreciação para qualquer palavra que venha tornar o nosso olhar para o outro menos hostil e mais solidário.
É não só admirável como também necessário, mas nem sempre funciona, sabemos bem. Às vezes machucamos o outro, intencionalmente ou não, porque estamos machucados.
Oferecemos ao externo o que temos de interno
Tudo o que doamos ao outro vem de nós já que não é possível dar-se o que não se tem.
Engraçado o quão pouco pensamos na raiz do problema. É engraçado que tenhamos tantas palavras que falam sobre a necessidade de comunhão com o outro “empatia, generosidade, solidariedade”, mas nenhuma que traduza a comunhão de nós conosco.
Engraçado que o mesmo mundo que nos estimula a desenvolver nossos desejos individuais através de uma competitividade pelo melhor e maior não ensina a valorizar a origem do individual: nós.
Vamos fazer um exercício: quantas vezes você já disse “Eu me perdoo”? Agora, quantas vezes você já disse “Eu te perdoo”? Qual foi a discrepância entre os dois?
Nossos internos se reconhecem
Curioso como o mundo funciona. Ele ensina que precisamos ser os melhores quando na verdade precisamos somente nos preocupar em ser.
Carregamos nas costas um peso gigantesco de todas as cobranças que partem do mundo e de nós e quando alguém erra por conta disso, nossa doutrina empática imediatamente oferece apoio e assistência.
Mas sabe de uma coisa? Quando começamos a ler o mundo a partir de suas mazelas, descobrimos que os demônios que enfrentamos são parecidos.
Por que aprendemos a ter paciência com o outro enquanto ele navega por uma jornada dolorosa enquanto ignoramos o que a nossa própria dor causa?
Somos ensinados que essencialmente tudo o que pensamos relacionado à nós é egoísta. Contudo, o ego é diferente do ser.
Um exemplo prático: é saudável olhar-se no espelho e reconhecer beleza (ser), é nocivo denotar à beleza uma importância que não lhe cabe (ego).
Deste modo, é correto e fundamental que pensemos em nós com carinho e paciência sem nos recriminar por isso. Também precisamos de conforto e nada mais justo do que ele primeiramente vir de nós.
Cuidado não é egoísmo
Jamais poderemos cuidar de mais ninguém se estivermos doentes. E nem assim deveria ser. Entenda que não somos mais importantes do que o outro, somos sim tão importantes quanto.
Quando formamos essa divisão entre o eu e o outro, criamos simultaneamente o atrito e o perdão entre os elementos.
Não haveria necessidade de brigarmos ou nos perdoarmos se percebêssemos que partimos todos do mesmo ponto e que essencialmente somos um só em nossa humanidade.
Tudo o que é sobre nós é mais difícil, mais trabalhoso, menos espontâneo. Precisamos nos programar para sermos corteses conosco já que nascemos ouvindo o quão importante é ser generoso com o outro.
Compreender que somos dignos da mesma folia e do mesmo amparo é um caminho sem volta e do qual nem pensaríamos em voltar. E é importante não deixar ninguém nos dissuadir do contrário.
Caso alguém questione seus métodos ou chame de egoísmo seu auto cuidado, não crie atrito, crie uma ponte e permita que seu conhecimento a atravesse.
Sem atrito, sem perdão, somente união.
Originalmente publicado no Medium em abril de 2020.
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