Desenvolvimento pessoal

7 coisas que hoje sou graças à faculdade

O aprendizado que obtive no meu tempo na faculdade ultrapassou as fronteiras do que o meu curso de graduação fornecia. Ao invés propôs o aprendizado como uma construção em grupo, em que a palavra teórica do corpo docente se aliava à experiência prática do alunado.

Na faculdade, me conheci e reconheci.

1. Mais honesta

Primeiramente me tornei mais honesta com o que pensava ser e nunca fui, com o que jurava não ser e sempre fui, com quem eu achava ter me feito mal quando só fez o que pensou ser necessário e com quem achava que tinha feito o necessário quando só me fez mal, com quem errou comigo sem intenção e com quem errei pensando que acertava.

Descobri que honestidade é compreender que minhas ações podem ser influenciadas por outros, mas ainda são parte de meu controle. Logo tenho o poder de decidir se vou rebater como me bateram ou se vou interromper a violência. Afinal o que o outro faz tem a ver com ele, o que eu faço tem a ver comigo.

Em minha natureza, é necessário ser honesta com o que sou, para o bem e para o mal, para assim ser honesta com quem mais houver de ser.

2. Mais flexível

Em seguida aprendi que não existe uma única verdade, existe aquela que é real para mim e aquela que é real para o próximo é tão valiosa quanto. A verdade do outro pode sim ser questionada e aprimorada, assim como a minha também pode.

Não existe instrução sem dúvida e não existe crescimento sem humildade, portanto para cada vez que eu falo, preciso ouvir ao dobro e assim almejar absorver o que é de fato verdadeiro e não só o que minha voz propaga.

3. Mais paciente

Descobri que a paciência é uma virtude atingida em uma jornada interna que nunca termina. Estou longe de ser tão paciente quanto preciso ser. Cada um tem um processo e um tempo para executá-lo e não existe certo ou errado quanto às decisões que tomamos por fazer sentido para quem somos.

Inegavelmente paciência também é respeito.

4. Mais sã

Aprendi a me conectar com o que entendo por valor, por clareza, por sabedoria, por trabalho, por ambição, por fé e por saúde; não existe saúde completa sem a saúde mental e esta é inegociável em qualquer cenário.

Ou seja, o meu conceito de sucesso é ter uma alma saudável.

5. Mais justa

Entendi que um cenário nunca é preto e branco e que se um tema é complexo e a decisão que estou tomando sobre ele é fácil, provavelmente não estou considerando todos os ângulos que nele cabem.

É preciso apreciar os elementos que afetam e são afetados, os que machucam e os que são machucados, os que gritam e os que se calam, os que sentem e os que consentem, os que se desculpam e os que se isentam da culpa, os que pedem e os que realmente precisam, os que amam e os que nunca conheceram o amor, os que batem e os que só aprenderam a apanhar, os que vencem e os que convencem, os que jogam e os que mudam as regras do jogo, os que aceitam e os que resistem, os que ouvem e os que transformam, os que fazem e os que desejam, os que vivem e os que sobrevivem.

6. Mais consciente

Identifiquei meus privilégios e o fato de que estes existem em uma escala que sou privilegiada demais por não conseguir calcular.

Eu me tornei mais consciente do que o mundo é e do que não é, do que sou e do que ainda quero ser, do que é de fato compreensível e do que nunca será. Assim o que não é compreensível não é uma frustração para carregar nas costas, é somente algo que não cabe em nossa ideia de consciência.

Descobri que existem situações que são vividas tanto de maneira coletiva quanto individual. Isto resulta em perspectivas diferentes sobre a mesma experiência; todas as perspectivas são válidas, mas elas não devem, de nenhuma forma, sobrepor uma à outra.

7. Mais humana

Enfim num mundo em que ser humano tem soado cada vez mais como escolha e menos como nossa configuração embrionária, descobri que o mais belo que existe no mundo é a alteridade e que o ser humano segue sendo o melhor professor e o mais necessitado aluno.

A faculdade me ensinou tanto não só porque debatia um mundo de temas dentro de suas paredes (embora tenha debatido muitos deles), não só porque tive professores maravilhosos (mas tive e delego a eles à responsabilidade por muitas de minhas palavras), não só porque tive contato com pessoas diferentes com histórias diversas (embora essa seja uma verdade irrevogável), mas porque ainda que a faculdade tenha me ensinado a ouvir quem estava dentro dela, me ensinou a ouvir principalmente quem nunca pôs os pés nela.

Ademais entendi que o conhecimento verdadeiro vai além da gramática correta, do cerimonial e protocolo, dos seminários, das palestras, do currículo lattes e do diploma.

Que se ilude quem pensa que sabe mais da textura do asfalto porque estudou sua composição do que aquele que conhece o que é porque sempre andou com os pés no chão.

Que o conhecimento real vai da beca ao beco.

Mais do que tudo, aprendi que o conhecimento real ninguém verdadeiramente tem porque o ontem o tornou obsoleto e sempre haverá um professor para ensinar algo novo amanhã.

Originalmente publicado no Medium em agosto de 2018.

Gabriela Araujo

Tradutora (EN - PT), preparadora e autora de obras de ficção contemporânea.

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