Estou aqui parada
há algum tempo
esperando um trem
que não chega.
Conforme o relógio
trabalhava
a estação
começou a encher.
Outros
lotaram as plataformas
até a total capacidade.
Após isso,
pessoas continuavam
a chegar e o trem
nada de passar.
O ar começou a ficar
rarefeito;
muitos organismos
a ocupar o mesmo lugar.
A presença era
reconfortante
e desesperadora.
Por um lado,
eu não estava sozinha;
por outro, sabia que
não teria lugar
para todos.
Quando
o trem chegasse,
será que precisaríamos
lutar
por uma vaga?
Se estavam todos ali
esperando do mesmo modo
não seria
um direito conquistado
todos poderem viajar?
Pelo visto
não.
Já posso sentir
os olhares inquietos
prontos para guerrilhar.
Quando que
de companheiros de viagem
nos tornamos
inimigos declarados?
Penso em arriscar
e caminhar,
mas ninguém fez isso.
Tenho medo
de ser a primeira
e descobrir que
o caminho que segui
sozinha
não dá em lugar nenhum.
Então continuo
a aguardar
junto a outros,
por algo do qual
não podemos
arriscar duvidar.
Por algo que
eventualmente
pode
nos atropelar.
E nos trilhos
ficaremos
a sangrar.
Ninguém
ficará para trás
para ajudar
os que caíram.
Ou aqueles
que foram
derrubados.
A estação
vai novamente
lotar.
E os corpos estendidos
destroçados
ao longo dos trilhos
vão desaparecer
debaixo de
um novo trem.
Originalmente publicado no Medium em abril de 2020.
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