
Epidemia
Às vezes acho que vivo num degradê ao contrário do resto do mundo. Enquanto se excitam com o diferente para depois se enjoarem quando se torna igual, sou o contrário: se me encantou em primeiro lugar, o interesse só aumenta com o tempo.
Se o início dos relacionamentos é um jardim florido, o que me importa mais é a manutenção para que nunca perca suas flores. Gosto de alguém no início e quanto mais conheço, mais gosto. Quanto mais da pessoa tenho, mais quero.
Sua presença passa a ser requisito, não fruto de uma casualidade. A convivência não me faz perder o tesão em algo; se vale à pena, quero perto de mim pelo período mais longo possível.
Não gosto de rotina, porque atualmente minha rotina é repleta do que não me faz bem e não me acrescenta nada. Gosto da rotina que me motiva, que me preenche, que me faz crescer. E aí sinto, oh como eu sinto, sinto tanto até não saber o que fazer com tanto sentimento.
O mais difícil é encontrar essa reciprocidade no sentir. Ter a sorte de que o nosso interesse contínuo se reflita em alguém de volta para nós. É tão comum hoje que percam o interesse, como se todos sofressem de um distúrbio de atenção que faz com que procurem incessantemente algo que seja mais instigante.
Não nos dão a chance de ser o que prende a atenção. E em resultado, vamos ficando parecidos; e a reciprocidade passa a se basear no não sentir.
De tanto não receber, passamos a não mais oferecer. Não temos mais nada. E todo mundo sai perdendo.
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