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Desenvolvimento pessoal

A frase que agora norteia tudo o que faço

Por vezes nos deparamos com aquela frase que fica com a gente como um chiclete que gruda no fio de cabelo, por mais chula que possa parecer esta comparação e resolvi escrever sobre a minha.

A verdade é que durante nossa vida nos concentramos tanto na ideia de vencer que nos tornamos obcecados com o receio de perder.

Se tem algo que me prova todos os dias ser um potente veneno, este algo é o medo. Por esta razão, considero importante ressaltar os antídotos com os quais já me deparei; às vezes eles vêm em formas de frases que até conhecemos, mas precisamos ser relembrados.

“Fracasso não é o oposto do sucesso, é parte dele.”

Certamente já devem ter se deparado com uma versão desta frase por aí e de fato ela não é novidade, principalmente quando aplicada ao mundo profissional.

Para mim, a magia desta frase está no fato de que quando comecei a pensar sobre ela, percebi como o temor do fracasso pode nos sabotar no exercício de qualquer atividade e identifiquei diferentes momentos em que isto acontece para assim combatê-lo.

Não tentar por medo de errar

O primeiro momento o qual nos deparamos com o receio é antes de que qualquer ação seja tomada, quando a própria ideia de fracassar nos faz desistir de sequer fazer algo. Não agir por receio do que pode acontecer é inútil porque nos prende num permanente estado de “e se?”.

E se nunca tentarmos conquistar o que queremos, realmente nunca iremos constatar que o temor tinha fundamento, mas também nunca teremos a chance de provar que ele não tinha. Só teremos criado um limbo de frustração que só terá o arrependimento como companhia.

Errar uma vez e desistir

No caso de superarmos aquele receio inicial pré-tentativa, nos enchemos de coragem e arriscamos e aí dá errado. O medo retorna com toda força, suspirando em nossos ouvidos que estava certo desde o início e cedemos, acreditamos e deixamos de lado.

Abandonamos a corrida porque tropeçamos em uma pedra no caminho, mas há uma pista inteira ainda pela frente e a vitória é construída por nós. Usemos o erro ao nosso favor pensando nele como um degrau e assim saberemos que só precisamos passar por ele para alcançar o topo que desejamos.

Paralisar por medo de errar

Estamos num período boníssimo em que conquistamos muito e recebemos o reconhecimento por isso; justamente por toda essa repercussão positiva, vem aquela voz sabe lá de onde para sugerir que quando tudo está indo muito bem é porque está preparando terreno para uma catástrofe acontecer.

E pelo pânico com o que ainda não aconteceu, travamos e deixamos de produzir e conduzir nossos projetos para que assim não coloquemos tudo já conquistado à perder. Mas interromper o passo não nos impede de cair, só nos impede de continuar andando.

Superestimar o erro

Temos esta mania torta de enaltecer o que fazemos de errado, completamente desconsiderando todos os acertos que temos em nossa mala. Apesar do que dizem, não é que o negativo grite mais alto, nós é que damos o microfone a ele.

Erramos sim e às vezes mais de uma vez porque perfeição é utopia e até as máquinas programadas para sempre acertar dão defeito. À cada esquina haverá alguém garantindo que não se esqueça do que fez errado, logo é importante que tenhamos consciência de nosso próprio valor e que jamais demos ao erro uma atenção maior do que a que ele requer.

Estipular erro = inaptidão

É também comum errarmos e entendermos este episódio pontual como categórico de toda a nossa capacidade, como se fôssemos só do tamanho de uma ação. Lembremos à nós mesmos que precisamos praticar paciência também com a gente.

Nossa competência é um conjunto e não só uma unidade, então é necessário lembrar que qualquer atitude é parte de um todo e é o todo que precisa ser julgado para encontrar alguma precisão. E no fim, aptidão é um processo porque ninguém nasce capaz, torna-se.

Confundir erro com essência

Acredito que o cenário mais problemático de todos é quando confundimos o erro com quem somos e aí o procedimento para reverter esta conclusão é mais complexo. Aqui é a hora de recordar que somos bem maiores do que uma prova, uma palavra ou um cálculo; somos compostos por vida e não por códigos exatos.

O ser humano não cabe na escala de um medidor e nem adianta tentar encaixá-lo, porque a personalidade sempre transborda. Não correspondemos a apenas uma página, ou somos um livro inteiro ou então ainda precisamos escrevê-lo.

Entendi que fracasso tem muito mais a ver com receio do que com performance; ainda assim, acredito que nos encontraremos nestas situações algumas outras vezes, talvez seja uma sina a nos acompanhar enquanto chamarmos a Terra de casa.

Então repetir esta frase nunca será passado ou ultrapassado, porque vivemos driblando um desafio ou outro com o medo nos acompanhando. A solução não é negá-lo nem renegá-lo, o nosso sucesso depende de lidarmos com ele, pois do contrário nos tornamos seus escravos.

Originalmente publicado no LinkedIn setembro de 2018.

Gabriela Araujo

Tradutora (EN - PT), preparadora e autora de obras de ficção contemporânea.

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