Crônicas
Desenvolvimento pessoal

A timidez atrapalha o alcance digital — como lidar

Eu sou tímida, mas esse spoiler já dei com o título. E ser tímida se tornou um desafio no mundo digital.

Ser tímida em nossa sociedade imagética não é fácil no geral, mas é principalmente difícil desde que decidi que tentaria ganhar a vida escrevendo.

Já tinha a ideia de um livro de poemas e prosas poéticas que estava engavetada há algum tempo e foi esse o projeto que pensei tentar publicar de início.

Mas como com qualquer coisa que fazemos pela primeira vez, eu tinha muitas dúvidas e fui surpreendida com a informação de que antes de engatar no processo de publicação, eu precisaria de divulgação.

Faz todo o sentido, é claro. Como as pessoas vão comprar seu produto se elas não te conhecem? Como elas vão ter interesse em alguém de quem nunca ouviram falar?

Antes de mais nada, eu precisava criar uma presença digital para garantir uma base de leitores que estaria de fato na expectativa pelo lançamento daquele livro.

Agora, se você manja minimamente do mundo moderno, já sacou que somos seres atraídos por imagens.

E mais do que isso, somos pessoas atraídas por pessoas; é por isso que uma marca se torna mais relacionável quando o público conhece o rosto por detrás dela.

Nós somos a nossa a marca.

“Gente como a gente”

Logo que comecei a escrever para o meu blog há 2 anos atrás, inicialmente um blog de viagens, demorei a entender porque as fotos de paisagens lindas causavam menos engajamento do que as fotos “sem graça” do meu rosto.

Pessoas querem pessoas, é simples assim. Somos nós que tornamos o nosso produto ou serviço relacionável. O crescimento orgânico depende de – literalmente – botar a cara no sol.

Mas hoje, mesmo sabendo disso, quando me vi tendo que construir uma presença digital num campo totalmente diferente, comecei cometendo o mesmo erro.

Eu subestimei o poder do meu rosto.

Isso se dá pelo simples fato de ser tímida. Não tem jeito, eu gosto é de sentar num canto sozinha e digitar minhas ideias para que outros leiam.

Não gosto dos holofotes das selfies e a ideia de que outros me vejam gaguejando em vídeos me apavora.

Mas a verdade que gosto de esconder de mim mesma é que não importa o que eu quero.

Eu não produzo conteúdo para mim. Absolutamente tudo o que eu publico é para ser lido e se o mundo está mudando, e ele continuará mudando incessantemente, eu preciso garantir que vou acompanhá-lo se quiser ser lida.

Então ao invés de prosseguir choramingando por não saber trabalhar com as ferramentas que me foram dadas, resolvi abrir o manual de uso e aprender.

Eu sou apaixonada por fotografia, então adaptar o objeto da foto a ser a minha pessoa não foi tão difícil. Mas os vídeos? Ah, eu sou péssima.

Em minhas primeiras tentativas, quase me abracei em consolo.

Mas o primeiro vídeo que publiquei no IGTV recitando um de meus poemas recebeu muito mais engajamento do que qualquer trecho que tinha postado por escrito por lá.

Dai a César o que ele quer ver

E aí você deve estar se perguntando: mas se você quer publicar um livro, seu objetivo não devia ser fazer com que as pessoas leiam o que escreve?

Com certeza é. O ponto aqui é captar a atenção do público pelo vídeo para que assim eles se interessem pelo que eu tenha a dizer em qualquer formato.

Eu ainda publico meus trechinhos que causam pouco engajamento (pouco somente por enquanto, espero), são eles o trabalho que quero promover afinal, então as fotos e os vídeos são somente os canais usados para atingir o objetivo.

Pense neles como agentes de redirecionamento: eles captam o foco e o conduzem ao que mais interessa.

No momento em que alguém que não me conhece vê o vídeo e gosta do conteúdo, ele começa a se questionar quem sou, por que sou e o que mais produzi que poderia interessá-lo.

É bem mais rápido e fácil captar a atenção de alguém através de uma imagem (estática ou em movimento) porque o tempo que levamos para processar uma imagem e decidir se nos interessa ou não é muito menor do que o tempo de ler a mesma informação por escrito.

E sabemos que o ser humano hoje está sempre querendo otimizar o tempo, né?

Particularmente eu consumo informações de uma maneira diferente. Eu prefiro muito mais ler um texto no meu ritmo do que assistir a um vídeo.

Mas lembra do que falei sobre não produzir conteúdo para mim? Pois é.

A verdade é que a partir de estudo e observação eu entendi que a imagem é a forma predileta de consumo de informação da maioria e logo se quero ser a informação consumida, é bom que eu me faça interessante do jeito deles.

Uma corrida de passos lentos

Isso tudo é, porém, um conjunto de tentativas e erros. Esse exato momento em que escrevo esse texto é uma fase de teste, é o período embrionário porque o meu objetivo parece nem ter começado a se formar.

Não sinto que caminhei muito mais do que quando comecei, mas é verdade que acabei de nascer.

Quis redigir esse texto agora porque já li centenas de opiniões de influenciadores e produtores de conteúdo que já alcançaram a linha de chegada, eles encontraram o pote de ouro, conquistaram o prêmio!

E ainda que esses relatos sejam muito relevantes e úteis, a verdade é que quando se está começando parece que isso nunca vai acontecer conosco.

A jornada está repleta de incertezas e dúvidas e às vezes tudo o que queremos é olhar para o lado e ver que ainda existe alguém correndo no mesmo ritmo que nós.

Eu não sei o que vai ser de mim ou do caminho que tento trilhar, estou tão longe da linha de chegada que sequer consigo calcular a distância.

Mas escrevi esse relato, para mim e para você que corre comigo, porque quem sabe lá na frente vou olhar para ele como prova de todo o percurso.

E no fim é isso que faz a maratona valer à pena.

Originalmente publicado no LinkedIn em maio de 2020.

Gabriela Araujo

Tradutora (EN - PT), preparadora e autora de obras de ficção contemporânea.

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